Geazi Um homem mudado

17/09/2011 12:30

 

Geazi Um homem mudado- "Série Homens e Mulheres da Bíblia"
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“Era isto ocasião para tomares prata, e para tomares vestidos, e olivais, e vinhas, e ovelhas e bois e servos e servas?” (II Rs 5:26).
Introdução: É nos capítulos 4-8 do segundo livro dos Reis que vamos encontrar as informações que marcaram a presença de Geazi, como personagem da história do antigo povo de Deus. Embora conhecido como “o moço de Eliseu”, Geazi é mencionado nesse trecho das Escrituras, pelo próprio nome, pelo menos doze vezes (cf. II Rs 4:12,14 ,25,27,29,31, 5:20,21,25, 8:4). O significado do seu nome, em hebraico, é negador ou diminuidor. O que vemos na pessoa de Geazi é uma espécie de satélite que brilha sob o reflexo de uma luz maior que era o profeta Eliseu, a quem servia. Como crente, Geazi demonstrou fraquezas, por mais de uma vez, mas nem todas as suas ações foram marcadas por fragilidades. Analisando o seu modo de proceder, em circunstâncias diferentes, percebemos que errou e acertou, como acontece com qualquer discípulo em processo de aprendizagem. No seu caso, porém, contou com uma grande vantagem: Era acompanhado por um homem de muita fé e suficientemente amadurecido para reorientá-lo. O presente estudo, portanto, tem como propósito apreciar o modo de agir de Geazi, na busca de alguma lição prática.
I – O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE GEAZI
Geazi, o moço de Eliseu: Ao falarmos de Geazi, não podemos deixar de falar a respeito de Eliseu, a quem Geazi chamava de senhor, pois a história de um está intimamente ligada à do outro. Em I Rs 19:19-21, encontramos algumas informações sobre Eliseu. Nesse texto da Escritura, está escrito que Eliseu era um lavrador, filho de Safate, e, no momento em que foi chamado para o exercício do ministério profético, estava lavrando a terra. Tão entusiasmado ficou com o chamado divino que pediu apenas para ir beijar e se despedir de seus pais. Feito isto, tomou uma das juntas de bois com que estava arando a terra, matou-a e, com a aparelhagem que utilizava no serviço, cozeu as carnes e as deu ao povo; em seguida, acompanhou a Elias, por intermédio de quem foi chamado. Depois disto, é só no capítulo 2 do segundo livro dos Reis que temos a continuação de sua história. Por esse tempo, havia, em Israel, uma escola de profetas dirigida por Elias, da qual Eliseu devia ser um dos estudantes. Com o arrebatamento de Elias, Eliseu passou a ser o seu sucessor (II Rs 2:9-11).
Geazi entra em cena: Reconhecido como um santo homem de Deus, Eliseu foi alvo da benevolência de um casal de Suném, que lhe construiu um aposento, nos fundos de sua casa, para que, de passagem por Suném, ali se hospedasse. Constrangido com a atitude daquele casal, Eliseu propôs, em seu coração, recompensá-lo. É aqui que Geazi entra em cena, pela primeira vez. Eliseu se utilizou dele como mensageiro, para chamar a mulher que lhe fizera tal cortesia, com a seguinte missão: "Dize-lhe: Eis que tu nos tens tratado com todo o desvelo; que se há de fazer por ti? Haverá alguma coisa de que se fale por ti ao rei ou ao chefe do exército? E dissera ela: Eu habito no meio do meu povo" (II Rs 4:12-13). Com estas palavras, a mulher deu a entender que, no momento, não precisava de favores. Mas Eliseu insistia em gratificá-la. Então inquiriu de Geazi: "Que se há de fazer, pois por ela? E Geazi disse: Ora, ela não tem filho e seu marido é velho" (II Rs 4:14). E, assim falando, Geazi estava sugerindo que Eliseu intercedesse junto a Deus para que este desse um filho ,àquela mulher. O profeta acatou a sugestão e, certo de que Deus honraria a sua palavra, prometeu: "A este tempo determinado, segundo o tempo da vida, abraçarás um filho (...) E concebeu a mulher, e deu à luz um filho, no tal tempo determinado, segundo o tempo da vida que Eliseu lhe dissera" (II Rs 4:16-17).
Fatos aos quais o nome de Geazi aparece associado: Observamos que, para conhecermos bem uma pessoa, precisamos analisar o seu modo de proceder em situações diferentes. Portanto se quisermos conhecer bem quem era Geazi, precisamos analisar o seu modo de agir em circunstâncias diferentes. Os episódios descritos nos capítulos 4-8 do segundo livro dos Reis, nos quais o nome de Geazi é mencionado, dão-nos uma idéia dos altos e baixos verificados no desenvolvimento do caráter desse homem. Os referidos episódios aconteceram (a) quando sugeriu uma recompensa à mulher sunamita; (b) por ocasião da morte do filho da sunamita; (c) quando ambicionou para si os presentes que Eliseu havia recusado de Naamã, o general sírio; (d) quando temeu os exércitos do rei da Síria, no cerco da cidade de Dotã; (e) e quando narrou, perante o rei Jorão, os feitos de Elizeu (II Rs 4:12 14 , 5:20-24, 6:15 -17 , 8:2-5). Analisemos mais de perto sua conduta.
a) Quando sugeriu uma recompensa à mulher sunamita:
Como dissemos anteriormente, Geazi foi a pessoa a quem Eliseu consultou sobre o que deveria fazer para retribuir à mulher sunamita a cortesia que lhe fizera. Embora Geazi fosse ainda um jovem, deu a Eliseu uma prova de que era inteligente, pois, considerando que a mulher não tinha filhos, concluiu que nenhuma dádiva seria melhor que esta. Ele estava atendendo a um dos mais fortes desejos de uma mulher hebréia, que era o de ter um filho. Então, sugeriu a Eliseu que intercedesse junto a Deus pela concessão de um filho àquela mulher. Eliseu acatou a sugestão, Deus ouviu o pedido, e, no tempo determinado, a mulher deu à luz um filho.
b) Quando o menino da sunamita faleceu:
O filho que Deus concedeu à mulher sunamita, através da intercessão de Eliseu, estando ainda pequeno, veio a sofrer uma forte dor de cabeça e a morrer. Eliseu e Geazi estavam no monte Carmelo, quando foram avisados da morte do menino. Provavelmente, o profeta estava muito ocupado, pois sua decisão inicial fora a de mandar Geazi em seu lugar. Isso demonstra que este era uma pessoa da confiança de Eliseu. Depois de ter dado todas as instruções sobre como Geazi devia proceder, disse-lhe:
"Cinge os teus lombos, e toma o meu bordão na tua mão, e vai. Se encontrares alguém não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe respondas; e põe o meu bordão sobre o rosto do menino. Porém disse a mãe do menino: Vive o Senhor e vive a tua alma, que não te hei de deixar. Então ele se levantou e a seguiu. E Geazi passou adiante deles, e pôs o bordão sobre o rosto do menino; porém não havia nele voz nem sentido. E voltou a encontrar-se com ele, e lhe trouxe aviso, dizendo: “Não despertou o menino” (II Rs 4:29-31).
Coube, pois, a Eliseu ressuscitá-lo. Depois disso, o profeta chamou Geazi e o encarregou de dar à mãe do menino a notícia de que o filho dela vivia.
c) Quando cobiçou os presentes do general Naamã:
Esta, talvez, tenha sido a maior demonstração de fraqueza revelada por Geazi. Naamã, general sírio, havia sido informado, através de uma escrava israelita, que, se fosse à terra de Israel, o homem de Deus (Eliseu), que estava em Samaria, o curaria de sua lepra. Naamã acreditou no que ouviu e, motivado pela esperança de ser curado, formou uma grande comitiva e foi a Samaria, levando muitos presentes a Eliseu, caso fosse curado. Chegando a Israel, obedeceu aos procedimentos determinados pelo homem de Deus e, ao fazê-lo, ficou completamente curado. Contudo, quando ofereceu os presentes a Eliseu, este os rejeitou, por não achar que fosse uma boa ocasião para fazer isso. Então Naamã retornou a seu país, levando de volta todos os presentes. Inconformado com a atitude de seu senhor e querendo tirar proveito da situação, Geazi decidiu ir atrás de Naamã e solicitar dele alguns dos presentes que havia trazido, dando a entender que Eliseu havia mudado de opinião. Ao alcançar Naamã, esta foi a história de Geazi:
"Meu senhor me mandou dizer: Eis que agora mesmo vieram a mim dois mancebos dos filhos dos profetas da montanha de Efraim; dá-lhes, pois, um talento de prata e duas mudas de vestidos. E disse Naamã: Sê servido toma dois talentos. E instou com ele, e amarrou dois talentos de prata em dois sacos, com duas mudas de vestidos, e pô-las sobre dois dos seus moços, os quais os levaram diante dele. E, chegando ele à altura, tomou-os das suas mãos, e os depositou em casa; e despediu aqueles homens e foram-se" (II Rs 5:22-24).
Para isso, Geazi teve de mentir duas vezes: a Naamã e a Eliseu, pois, quando este o inquiriu: "Donde vens, Geazi, ele respondeu: Teu servo não foi nem a uma nem a outra parte" (II Rs 5:25). Agindo assim, Geazi contrariou a vontade de seu mestre e os princípios que regiam a conduta dele. Bem mais tarde, Paulo, numa atitude de reprovação a procedimentos tais como o de Geazi, diz: "De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestido" (At 20:33). Portanto, ao mentir e ambicionar para si os presentes que já haviam sido recusados por Eliseu, Geazi foi repreendido e castigado. A lepra que, antes, estava em Naamã, se transferiu para ele (II Rs 5:25-27). Os fatos mostram que se recuperou da lepra e do seu desvio de conduta, pois continuou servindo a Eliseu como dantes fazia.
d) Quando se intimidou perante o exército do rei da Síria:
Quando o rei da Síria cercou a cidade de Dotã, ao saber que Eliseu estava nela, Geazi se levantou bem cedo naquele dia e, vendo a cidade cercada, exclamou:
"Ai, meu senhor, que faremos? E ele [Eliseu] disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu" (II Rs 6:15 -17 ).
Não podemos deixar de reconhecer que esta foi mais uma demonstração de fraqueza de Geazi. Mas quem de nós, estando com a visão dele, não sentiria o mesmo? Há situações na vida do crente que, se não forem encaradas com fé, ou seja, com visão espiritual, podem causar preocupação e medo. Quando Geazi percebeu que não estavam sozinhos, e que mais eram aqueles que estavam com eles do que os que estavam com os seus inimigos, com certeza, se sentiu seguro, fortalecido e encorajado.
e) Quando relatou, perante o rei Jorão, os feitos de Eliseu:
Algum tempo depois de Eliseu ter ressuscitado o filho daquela mulher, o Senhor lhe revelou que mandaria sobre Israel uma grande seca, e que esta se estenderia por sete anos. Então, aconselhada pelo profeta, aquela mulher viu-se obrigada a ir peregrinar na terra dos filisteus, tendo lá ficado por todo o tempo que durou a seca. Ao cabo desse tempo e, melhorada a situação em sua terra de origem, ela decidiu voltar. Ao chegar, constatou que tinham se apoderado indevidamente de sua casa e de suas terras. Certo dia, estando Geazi, a pedido do rei Jorão, a relatar os feitos de Eliseu, incluiu, em seu relato, a ressurreição do filho daquela mulher. Coincidentemente, naquele mesmo dia, a mulher, cujo filho fora ressuscitado por Eliseu, compareceu perante o rei para reclamar a reintegração de posse de sua casa e de suas terras, e Geazi a reconheceu. Então, apontando para a mulher, disse: "Ó rei meu senhor, esta é a mulher e este é o seu filho a quem Eliseu vivificou" (II Rs 8:5). Depois de se certificar da veracidade de suas palavras, o rei determinou que todos os bens daquela mulher lhe fossem restituídos (II Rs 8:4-6).
II – LIÇÕES DA VIDA DE GEAZI
1. Como Geazi, precisamos passar por um processo de aprendizagem.
Geazi era um discípulo de Eliseu e, como tal, deveria estar permanentemente atento às ordens recebidas de seu senhor. Não é seguro e nem confiável, especialmente no início de qualquer processo de aprendizagem, o discípulo agir por iniciativa própria, sem a supervisão de seu mestre. Nessa fase, o discípulo ainda está muito inseguro e, por isso, pode cometer muitos enganos. É preciso muito cuidado para que as coisas aconteçam da maneira como foram estabelecidas. Um pequeno descuido, em muitos casos, pode resultar em erros irreparáveis. Precisamos aceitar o fato de que, quando estamos sendo discipulados, quando estamos em fase inicial de aprendizagem, somos como um bebê espiritual em formação. Devemos fazer apenas aquilo que o nosso mestre manda ou em acordo com ele, porque ainda não estamos preparados para agir por conta própria; isto só vai acontecer bem depois. Contudo, Geazi agiu impelido pelo seu próprio impulso. A despeito disto, porém, ele superou sua fraqueza e acabou sendo bem-sucedido no seu aprendizado, porque continuou como assistente de Eliseu. Isso, com certeza, não teria acontecido sem uma significativa mudança em sua vida. Que tenhamos esse progresso.
2. Como Geazi, busquemos a ajuda e a compreensão de um bom orientador.
O papel de Geazi era o de um estagiário ou discipulando, sob acompanhamento. Tudo que lhe fosse ensinado, na teoria ou na prática, com certeza, se refletiria em sua formação. Na maioria dos casos, o sucesso de um estagiário ou discipulando vai depender da forma como é orientado e quando é orientado. Não duvidamos da forma de orientação dada a Geazi por Eliseu. Este foi chamado de “o santo homem de Deus”. No Antigo Testamento, Eliseu foi o profeta que mais realizou milagres. Ele foi um homem de muita fé em Deus. A atitude ambiciosa demonstrada por Geazi não foi por falta de ensinamentos; com certeza, ele os recebeu na medida certa. O erro de Geazi consistiu em fazer algo sem ter consultado o seu mestre, como quando desejou para si os presentes do general Sírio, mostrando-se ambicioso (II Rs 5:21-24). O próprio Eliseu, ao repreendê-lo, mostrou que o momento e a forma como agiu não foram apropriados, ou melhor, foram de todo condenáveis (II Rs 5:25-26). Porém, Eliseu foi tolerante e compreensivo para com o seu servo. Busque, estudante, se cercar de pessoas capazes de orientar bem a sua vida! Felizes são aqueles discípulos que podem contar com um mestre como foi Eliseu para Geazi.
3. Diferentemente de Geazi, tenhamos cuidado para não irmos além do que nos foi ensinado.
Enquanto Geazi fez apenas o que lhe mandara o seu senhor, tudo foi muito bem. O próprio Eliseu chegou ao ponto de ser influenciado por ele, como no caso da sugestão que deu para gratificar a mulher sunamita (II Rs 4:14-16). Era tão grande a confiança que Eliseu depositava em Geazi que o mandou cumprir a quase impossível missão de ressuscitar um morto (II Rs 4:29). Quando Geazi relatou ao rei Jorão os feitos de Eliseu, foi tão persuasivo e convincente que acabou influenciando na decisão do rei Jorão, em favor da mulher sunamita (II Rs 8:4-6). Geazi foi um jovem com virtudes e defeitos como acontece com todos os outros. Desta forma, não é seguro para o jovem de hoje, agir contrariando a orientação dada pelos mais velhos e mais experientes, principalmente se está em fase inicial de aprendizagem. Só depois de um bom período de aprendizado é que o discípulo pode, aos poucos, ir se libertando da tutela de seu mestre. A grande vantagem de Geazi foi ter contado com um discipulador compreensivo, tolerante e perdoador, pois, com certeza, isso contribuiu para mudar o rumo das coisas, com o passar do tempo. Geazi foi restaurado, felizmente. A prova que temos disto está no fato de ter ele continuado como assistente de Elizeu.
CONCLUSÃO
Na análise que fizemos sobre Geazi, concluímos ter sido ele um jovem como qualquer outro, com virtudes e defeitos. Se o julgarmos como digno de censura, com base em um único episódio de sua vida, poderemos cometer uma injustiça, pois há, na conduta daquele jovem, aspectos positivos que precisam ser levados em conta. Há, na igreja, muitos jovens impetuosos, que, no afã de realizar determinadas coisas, acabam fugindo aos padrões de comportamento recomendados. Porém, o que esses jovens mais precisam é de líderes que os orientem, que saibam trabalhar os seus pontos fracos, que sejam tolerantes e pacientes. Elizeu cumpriu muito bem o papel que lhe coube, no tocante a Geazi. Como prova disso, este continuou sendo o servidor de Eliseu. Todos nós somos discípulos, e o Senhor Jesus Cristo é o nosso grande Mestre e Senhor. Diante dele temos cometido muitas falhas; se não fosse a sua misericórdia, há muito que teríamos perecido. Mas ele tem sido compreensivo e perdoador. Tem nos dado novas chances e é por isso que temos permanecido de pé em sua presença até agora. Que o Senhor nos faça servos submissos e obedientes, mas que seja também misericordioso para conosco, quando surpreendidos em alguma fraqueza.

Medite nessas coisas, e que Deus nos abençoe!